Um cantinho onde o Português, a Literatura, os vários discursos, os enunciados, as opiniões, as críticas... podem ser teus...
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Crónica
ESTOU certo de que o leitor conhece a história chamada ‘A Roupa Nova do Rei’, de Hans Cristian Andersen. Pessoalmente, sou um apreciador de todas as histórias que envolvam nudez (embora esta nem seja daquelas em que a nudez é mais compensadora), e por isso resumo o enredo para os leitores que, por pudícia ou distracção, não estão familiarizados com ele. Um burlão chega a determinado reino apresentando-se como um alfaiate famoso e propõe ao rei vesti-lo com a melhor roupa alguma vez confeccionada, ainda mais bela que aquele fato dourado que o Miguel Veloso uma vez usou num desfile da Fátima Lopes e que o fazia parecer uma farinheira sem cordel. O tecido é especialmente bonito mas, avisa o alfaiate, tem a particularidade de só poder ser visto pelas pessoas verdadeiramente competentes na sua profissão. Quase ninguém da defesa do Sporting conseguiria vê-lo, por exemplo. No dia marcado, o burlão aparece com um cabide vazio e o rei e os seus súbditos, não querendo passar por incompetentes, apressam-se a gabar um fato que, na verdade, não existe. O fato do rei é, portanto como o penalty do Yebda sobre o Lisandro: ninguém consegue vê-lo, mas há quem mantenha que existe. O rei veste o fato inexistente e vai passear para a rua. A única pessoa que tem coragem de gritar que o rei vai nu é uma criança. Talvez seja uma criancice, mas creio ser igualmente meu dever anunciar aqui hoje que o Rui Patrício também vai nu.
Desde terça-feira que o guarda-redes do Sporting ocupa as capas dos jornais desportivos: para uns foi salvador, para outros foi herói; A Bola pô-lo em manchete a declarar que sentiu uma força extra no momento do golo, o Record fotografou-o a agarrar numa santinha (previamente colada à mesa, tenho a certeza, não fosse o Rui Patrício deixá-la fugir por entre as mãos). Ninguém disse, acho eu, que a bola e a cabeça do Rui Patrício não chegaram a tocar uma na outra. De facto, no jogo contra o Twente, Rui Patrício sofreu um golo em que a bola, apesar de cabeceada junto dele, vai à figura, e depois fez algumas defesas incompletas, incluindo uma que esteve a centímetros de ser um frango. Não costuma ser o suficiente para que uma exibição seja qualificada como salvadora ou heróica. Mas, no último minuto, Rui Patrício foi lá à frente fazer um quase-cabeceamento. E foi, aparentemente, o quase-cabeceamento do século. De todos os jogadores que quase cabecearam uma bola mas não chegaram a fazê-lo, Rui Patrício é o mais bem sucedido de sempre. Já se sabia que a academia de Alcochete preparava bem os atletas, mas ninguém tinha percebido ainda que lá também se treinavam, e de que maneira, os quase-cabeceamentos. O guarda-redes do Sporting teve o heroísmo de colocar a cabeça mesmo ao pé do sítio em que a bola passou, o que é notável. Salvou a equipa assistindo muito de perto ao momento em que o defesa do Twente acertou com o ombro na bola e a enviou na direcção do colega que, posteriormente, deu o pontapé que, depois disso, e então sim, a enviou então para dentro da baliza. É possível que a bola tenha ainda roçado na camisola do Rui Patrício. Nesse caso, admito que o Sporting tenha na equipa um herói salvador, um homem decisivo no auto-golo dos dois jogadores do Twente. Mas não é o Rui Patrício, é o Paulinho dos equipamentos.
Neste momento, Domingos Paciência tem um registo de 100% de derrotas na sua carreira à frente do Braga. Recordo que se trata do mesmo Domingos Paciência que, quando foi apresentado, disse que iria fazer melhor que Jorge Jesus. Talvez devesse haver uma cadeira no curso de treinador de nível IV em que os alunos aprendessem a calar-se muito caladinhos e a não fazerem favores aos amigos nas conferências de imprensa. Mas como Domingos, a julgar pela amostra, esteve desatento nas outras aulas, ninguém nos garante que absorvesse bem os conhecimentos dessa.
sábado, 23 de maio de 2009
quarta-feira, 6 de maio de 2009
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Albano Martins
Onde se diz espiga
leia-se narciso.
Ou leia-se jacinto.
Ou leia-se outra flor.
Que pode ser a mesma.
As flores
são formas
de que a pintura se serve
para disfarçar a natureza. Por isso
é que
no perfil
duma flor
está também pintado
o seu perfume.
Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"