Estrutura do Memorial do Convento
Estrutura externa
A obra é composta por 25 capítulos
Para além da sua divisão em capítulos, da obra destacam-se ainda 3 planos:
Plano da história
Portugal no século XVIII
Reinado de D. João V
Construção do Convento
Inquisição, autos de fé, casamento dos infantes
Plano da ficção da História
O narrador molda as personagens históricas, transformando-as
D. João e D. Ana caricaturados
Plano do fantástico
Construção da Passarola
Dom de Blimunda
⇒ Romance histórico - oferece uma descrição minuciosa da sociedade portuguesa da época.
Nesta obra, o ponto de vista do narrador altera o ponto de vista histórico e, como tal, a classificação de Memorial do convento como romance histórico não é consensual.
⇒ Romance social - preocupa-se com a realidade social fazendo sobressair o povo oprimido.
⇒ Romance de intervenção - visa denunciar a história repressiva portuguesa da 1ªmetade do século XX.
⇒ Romance de espaço - traduz não só o ambiente histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano.
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O narrador em Memorial do Convento
Homodiegético
Fala na 1ªpessoa, dialoga com outras personagens
Ex : o fidalgo do cortejo do casamento dos príncipes (que explica a João Elvas o que se vai passando) e Manuel Milho
Heterodiegético
Está fora da história que narra
Fala na 3ª pessoa
Descreve, sentencia, profetiza
⇒ Em Memorial do Convento, o narrador conta a história com apartes e comentários:
com uma voz distanciada e impessoal
com uma voz intemporal, comentando os acontecimentos do passado à luz do presente
apresentando marcas da oralidade
como se estivesse dentro e fora das personagens (omnisciente)
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Estilo e linguagem no Memorial do Convento
Discurso
tom coloquial e dialogante
marcas da oralidade
frases parentéticas e apartes
diálogos e monólogos
predomínio do presente e do futuro, em detrimento das frases no pretérito como é comum na narrativa
presença de discurso argumentativo e reflexivo
Recursos estilísticos
trocadilhos e ironia
adjetivação
hiperbole
metáfora
onomatopeia
enumeração
visualismo - o narrador guia o nosso olhar através de expressões como : "primeiro", "último" , " ou/ou" e enumerações
hipálage
anacronismo - faz a ligação entre o tempo da narração e o futuro através de comentários
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A ação em Memorial do Convento
A obra Memorial do Convento divide-se em 4 linhas de ação (linhas estas anunciadas no paratexto da contra capa com " Era uma vez...".
Assim temos:
1. " Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um Convento em Mafra."
• A promessa
- Rei D. João (1689 - 1750) ordena a construcção do Convento que se inicia após o nascimento da princesa Maria Barbara, em cumprimento da promessa.
2. " Era uma vez a gente que construiu esse Convento. "
• " A gente "
- povo anómimo
- personagem coletiva que trabalha e sofre às mãos do rei
- hulmide e trabalhador o povo, que constrói o Convento, é enaltecido pelo narrador, que tenta individualizá-lo.
3. " Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. "
• Baltazar Mateus
- perdeu a mão esquerda trespassada por uma bala na Guerra da Sucessão Espanhola
- conhece Blimunda num auto-de fé no Rossio
- participa na construção da Passarola
- trabalha na construção do Convento
• Blimunda
- partilha com Baltazar um amor espontâneo, verdadeiro
- é vidente, em jejum consegue olhar por dentro das pessoas e das coisas
- recolhe as "vontades" que fazem voar a Passarola
4. " Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido."
• Padre Bartolomeu
- orienta Baltazar e Blimunda na construção da Passarola
- realiza o seu sonho, voando na Passarola
- é perseguido pelo Santo Oficio
- morre louco em Toledo
⇒ o último "Era uma vez" da contracapa abre a porta a todas as possíveis interpretações dos leitores.
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As personagens em Memorial do Convento
Rei D. João V
Rei vaidoso, egocêntrico, megalómano e libertino
Rico e poderoso - não sabe o que fazer com tanta riqueza
Arrogante - a vontade do rei é divina
Tem " medo de morrer"
É ridicularizado pelo narrador que recorre à caricatura e ao tom irónico na sua descrição
Baltazar
Homem do povo nascido em Mafra
Não tem a mão esquerda
Tem a alcunha de Sete Sóis
Apaixonado por Blimunda
Sonhador, constrói a Passarola
Morre queimado num auto-de fé (54 anos)
Blimunda
Mulher misteriosa, fiel, intuitiva e inabalável no amor
Possui o dom da vidência, vê o interior dos corpos
Tem a alcunha de Sete Luas
Tem uma sabedoria muito própria, é inteligente
Padre Bartolomeu de Gusmão
Sonhador, visionário e culto
Capelão na corte e amigo de D. João V
Nascido no Brasil
Possui uma visão muito própria da religião pois:
- abençoa a relação de Baltazar e Blimunda
- aceita o dom de Blimunda
- é muito ligado à ciência
Possui um espírito cientifico que o vai afastando da igreja progressivamente
O seu conhecimento e estudos levam-no a interrogar-se acerca dos dogmas católicos
Tem medo da Inquisição, pois está consciente de que fez coisas condenadas pelo Santo Oficio como, a construção da Passarola
Morre louco em Toledo
Domenico Scarlatti
Músico italiano, nascido em Nápoles
Talentoso, culto e sonhador
Professor de D. Maria Bárbara
Trava amizade com o Padre Bartolomeu na corte do rei
Tem conhecimento da existência da Passarola e interessa-se pelo engenho
A sua música possui um poder curativo e inebriante
O povo
Populares anónimos, analfabetos e oprimidos
Trabalhadores humildes
Sacrificados e sujeitos à exploração dos poderosos
Elevados a herói pelo narrador
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O amor em Memorial do Convento
Baltazar e Blimunda - casal transgressor dos códigos oficiais e sociais
integração mútua e perfeita
partilham o amor sem limites
não procriam - entregam-se um ao outro por amor, não olhando a limites, lugares ou datas
o silêncio é o canal de comunicação - amor intuitivo, natural
entendem-se através do olhar
Conhecem-se a 26 de Junho de 1711
Baltazar morre e 18 de Outubro de 1739 ⇒ 28 anos sem que o seu amor enfraquecesse
Rei e rainha
casamento de conveniência, sem amor
obrigações, datas marcadas
traições do rei
⇒ Ao longo do romance, o narrador opõe a vivência amorosa destes 2 casais: Blimunda e Baltazar e D. João com D. Maria Ana. As diferenças entre ambos são evidentes e tornam-se ainda mais acentuadas com a caricatura e tom irónico usado pelo narrador na descrição do casal real.
Enquanto Baltazar e Blimunda partilham um amor perfeito, entregando-se um ao outro sem olhar a datas ou lugares, o rei e a rainha encontram-se unidos por um casamento de conveniência que tem como objetivo a obtenção de herdeiros para a coroa portuguesa. Na relação dos monarcas tudo é assumido como um compromisso e, até as relações sexuais, são para o rei uma obrigação que ele cumpre em datas previamente definidas.
Outro aspeto que distingue os dois casais é a fidelidade. O facto de Baltazar apenas se dar a Blimunda opõe-se às constantes traições praticadas por D. João V.
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